Pergunta
O que são os nomina sacra?
Resposta
Nomina sacra é o termo latino para "nomes sagrados" (nomina sacrum é a forma singular). Em muitos manuscritos cristãos antigos, os nomes Deus, Cristo, Jesus e Senhor são abreviados com a primeira e a última letra de cada palavra (embora possa haver alguma variação), com uma barra na parte superior de ambas as letras indicando uma contração ou abreviação. Essa abreviação em um manuscrito cristão antigo é chamada de nomina sacrum ou, às vezes, nomina divinum ("nome divino").
Por exemplo, o símbolo ΘC é um nomina sacrum, sendo uma forma abreviada da palavra grega para "Deus", ΘΣOC. Até certo ponto, o uso dessas abreviações é específico do escriba, e nem todo manuscrito segue as mesmas práticas o tempo todo. Mas o uso de nomina sacra é predominante o suficiente entre os manuscritos existentes para reconhecer a tendência.
De modo geral, a prática parece ter sido um sinal de honra ou respeito especial pelo nome que estava sendo abreviado ou contraído. A maioria dos antigos judeus hesitava em falar ou escrever o nome de Deus para que não usassem inadvertidamente o Seu nome em vão. Por exemplo, o nome hebraico Yahweh era tão sagrado que nunca era pronunciado. De fato, nem sabemos ao certo como era pronunciado, pois só temos as consoantes YHWH. As vogais a e e em YaHWeH foram fornecidas por estudiosos posteriores com base nas melhores evidências da pronúncia. O texto hebraico do Antigo Testamento foi originalmente escrito apenas com consoantes. Os falantes nativos teriam entendido como pronunciar as palavras sem vogais, especialmente porque a maioria das palavras hebraicas tem uma construção regular de consoante-vogal-consoante. É raro encontrar duas ou mais vogais juntas em hebraico, e duas consoantes geralmente só são encontradas juntas se estiverem em sílabas separadas. (Prtgs flntes cnsgm lr txts s/vgls ms c/ cta dfdld.) Posteriormente, as marcas de vogais foram adicionadas aos manuscritos hebraicos para preservar a pronúncia para as gerações futuras e para facilitar a leitura para aqueles que não estão tão familiarizados com o idioma.
Quando o nome de Deus, YHWH, teve vogais adicionadas, as vogais foram retiradas da palavra Adonai ("Senhor"), e a palavra sempre foi pronunciada "Adonai". (Isso é refletido em algumas traduções pela tradução "SENHOR" em letras maiúsculas sempre que o hebraico tiver YHWH). Atualmente, muitos judeus que são religiosamente observantes não escrevem a palavra Deus pelo mesmo motivo. A nomina sacra nos antigos manuscritos cristãos pode refletir algumas das mesmas preocupações.
Quando a palavra deus não se refere ao Deus Único e Verdadeiro (ou seja, é uma referência a um deus pagão), as abreviações geralmente não são usadas. Por exemplo, a NVI traduz 1 Coríntios 8:5-6 assim: "Pois mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra, (como de fato há muitos "deuses" e muitos "senhores"), para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos." No manuscrito grego da p46, o escriba não escreve as palavras deus e senhor no versículo 5 (e a NVI as coloca entre aspas), mas no versículo 6 o escriba usa nomina sacra para Deus, Pai, Senhor, Jesus e Cristo. (Uma fotografia dessa parte da p46 pode ser vista em https://ntvmr.uni-muenster.de/manuscript-workspace?docID=10046, acessada em 24/9/2022).
O uso de nomina sacra não parece ser uma técnica de economia de espaço, pois muitos manuscritos que os contêm não tentam economizar espaço de outras formas. Pode ser mais uma evidência da crença cristã na divindade de Cristo. As palavras/nomes Deus, Senhor, Jesus e Cristo são todos tratados da mesma forma. Até certo ponto, os primeiros cristãos tratavam os nomes de Cristo da mesma forma que os judeus tratavam o nome Yahweh. Entretanto, não parece que os nomina sacra eram usados com o mesmo rigor e consistência com que os judeus evitavam o nome Yahweh. Alguns manuscritos usam nomina sacra de forma inconsistente e outros não usam de forma alguma. Isso parece demonstrar que os escribas não estavam tentando "provar" nada com o uso da nomina sacra, nem estavam aderindo a um código legalista rigoroso. Em vez disso, eles estavam simplesmente escrevendo de uma forma que lhes parecia natural.
Em manuscritos posteriores, outras palavras importantes também passaram a ser abreviadas (filho, cruz, pai, salvador, espírito, céu etc.). Essa prática continuou em muitos manuscritos latinos e coptas. O que começou como um sinal de respeito à divindade pode ter se transformado em uma abreviação que simplesmente poupou trabalho e foi estendida a outras palavras importantes. Ainda há muito estudo a ser feito sobre as razões e o significado da nomina sacra.
Posteriormente, o cristianismo desenvolveu o que é conhecido como cristograma, o símbolo que combina as duas primeiras letras gregas de ΧΡΙΣΤΟΣ ("Cristo"), Chi e Rho, que para os leitores portugueses se parecem com um X e um P maiúsculos. O cristograma não é usado em nenhum manuscrito do Novo Testamento, mas é usado como abreviação de Cristo em escritos cristãos posteriores e incorporado em obras de arte cristãs.
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