Pergunta

A que horas Jesus foi crucificado? A que horas Jesus morreu na cruz?

Resposta
Os escritores dos evangelhos fazem várias referências ao horário da crucificação de Jesus. Juntar todas essas referências nos dá uma ideia da hora do dia em que Jesus morreu. Neste artigo, usaremos a ACF porque ela se aproxima de uma tradução literal das referências de tempo registradas no original grego.

Sabemos que Jesus foi preso à noite e levado a Pilatos na manhã seguinte. Mateus 27:1-2 nos diz: "E, chegando a manhã, todos os principais sacerdotes, e os anciãos do povo, formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem; E amarrando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos."

Houve uma série de audiências perante Pilatos e Herodes, que estava em Jerusalém para a Páscoa (ver Lucas 23:6-15). Mas Pilatos teve de tomar a decisão final. Pilatos queria libertar Jesus (Lucas 23:20), mas acabou achando mais vantajoso apaziguar a multidão. "Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso. E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos. Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado" (Mateus 27:24-26).

Mateus fornece algumas pistas sobre a hora em que Jesus foi crucificado: "E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona. E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias, E logo um deles, correndo, tomou uma esponja, e embebeu-a em vinagre, e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber. Os outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo. E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras" (Mateus 27:45-51). Portanto, de acordo com Mateus, Jesus morreu "por volta da hora nona". Lucas 23:44-47 concorda com Mateus sobre a escuridão na hora sexta e a morte de Jesus por volta da hora nona. Marcos 15:25 acrescenta mais informações: "E era a hora terceira, e o crucificaram", e o restante do relato concorda com Mateus e Lucas sobre os momentos de escuridão e a morte de Jesus.

Portanto, juntando os relatos dos Evangelhos Sinóticos, Jesus foi crucificado na terceira hora. A escuridão desceu da sexta hora até a nona hora, e Jesus morreu por volta da nona hora. Jesus ficou na cruz por cerca de seis horas, três das quais em total escuridão. No cálculo moderno, um novo dia começa à meia-noite, portanto, a terceira hora seria às 3:00 da manhã. No entanto, o dia judaico começava ao pôr do sol, mas as horas eram contadas a partir do nascer do sol, que seria aproximadamente 6h da manhã. Portanto, a terceira hora em que Jesus foi crucificado seria três horas após o nascer do sol, ou cerca de 9 horas da manhã. A sexta hora, quando a escuridão desceu, seria aproximadamente ao meio-dia, e a nona hora, quando Jesus morreu, seria por volta das 15 horas. Tudo isso é bastante simples, exceto que João parece registrar algo diferente.

João 19:13-14 diz: "Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico Gabatá. E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei." João parece colocar a audiência perante Pilatos "por volta" do meio-dia, o que entraria em conflito com Marcos, que registra que Jesus foi crucificado na terceira hora, ou seja, às 9 horas da manhã.

Há várias soluções possíveis para essa aparente discrepância. Alguns sugeriram que João está contando as horas a partir da meia-noite (o método "romano"), de modo que a sexta hora seria por volta das 6:00 da manhã. Isso resolve o problema da cronologia; entretanto, D. A. Carson, citando a pesquisa de Henry Morris, acha isso improvável, pois essa contagem era normalmente reservada para documentos legais romanos (Pillar New Testament Commentary, "João", Eerdmans, 1991, p. 605). Merrill Tenney aponta que esse método "romano" seria inconsistente com as outras anotações de tempo de João (NIV Bible Commentary, Volume 2, Novo Testamento, "João", Zondervan, 1994, p. 363). Andreas Kostenberger também observa que João parece usar o quadro de referência tradicional do nascer ao pôr do sol ao se referir ao tempo em João 1:39, onde a décima hora parece se referir ao final da tarde (16:00), e não às 10:00 (Baker Exegetical Commentary on the New Testament, "João", Baker Academic, 2004, p. 74-75). Portanto, a solução do "horário romano" parece ser improvável.

Outra solução proposta é atribuir a menção da sexta hora feita por João a um erro de escrita. Nessa teoria, um dos primeiros copistas de João escreveu erroneamente Ϝ (o numeral grego digamma, ou 6) em vez de Γ (o numeral grego gamma, ou 3). Isso faria com que João e Marcos estivessem em total concordância; entretanto, Carson ressalta que não há absolutamente nenhuma evidência manuscrita para essa variante (op. cit., p. 606). Portanto, essa solução se baseia inteiramente em conjecturas.

Kostenberger, embora não endosse necessariamente a ideia, sugere que João pode estar fazendo uma observação teológica aqui e não está tentando dar uma indicação literal do tempo (op. cit., p. 536). A seleção do cordeiro pascal normalmente ocorria ao meio-dia do dia anterior à Páscoa. Portanto, quando Jesus foi selecionado para a crucificação, João faz referência ao meio-dia (a sexta hora) para enfatizar o fato de que o Cordeiro de Deus havia sido selecionado. No entanto, essa solução tem suas próprias dificuldades cronológicas. O "dia de preparação" mencionado em João 19:14 é provavelmente a preparação para o sábado da Páscoa, não a festa da Páscoa que exigiria que o cordeiro fosse escolhido. O fato de Jesus já ter comido a Páscoa com Seus discípulos parece indicar que a refeição em si já havia ocorrido.

Kostenberger (p. 538) e Carson (p. 605) preferem uma solução baseada nos métodos imprecisos da cronometragem antiga. Antes do uso de relógios e outros dispositivos precisos de cronometragem, o dia geralmente era dividido em blocos de três horas, e as pessoas geralmente estimavam e arredondavam a hora. Se fosse o meio da manhã, digamos 10h30, uma pessoa poderia ter arredondado para baixo e dizer que era a terceira hora (9h00); outra pessoa poderia ter arredondado para cima e dizer que era a sexta hora (meio-dia). Nessa solução, não há discrepância, apenas uma diferença na forma como cada escritor estimou a hora. (Mesmo nos tempos modernos, com relógios digitais que marcam a hora até o segundo, geralmente arredondamos para o quarto ou meia hora mais próximo). De acordo com essa solução, a escolha entre a terceira e a sexta hora seria uma questão de estimativa pessoal. É possível que João e Marcos tenham "arredondado" os horários de acordo com o costume.

Em última análise, esse pode ser o caso de esperar precisão científica moderna de um livro antigo. Carson coloca a questão da seguinte forma: "É mais do que provável que estejamos correndo o risco de insistir em um grau de precisão em Marcos e João que, nos dias anteriores aos relógios, não poderia ter sido alcançado. O cálculo do tempo para a maioria das pessoas, que não podiam carregar relógios de sol e mapas astronômicos, era necessariamente aproximado. Se o sol estivesse se movendo em direção ao meio do céu, dois observadores diferentes poderiam muito bem ter olhado para cima e decidido, respectivamente, que era 'a terceira hora' ou 'aproximadamente a sexta hora'" (p. 605).

Considerando todas as evidências juntas, Jesus foi crucificado em algum momento da manhã e morreu em algum momento da tarde. Ele teria passado algo entre três e seis horas na cruz, sendo que boa parte desse tempo foi na escuridão total. Os escritores dos evangelhos não estavam muito interessados em precisão nesse assunto. Eles estavam muito mais preocupados com as implicações teológicas, que registraram fielmente.