Pergunta

Como a encarnação pode ser conciliada com a imutabilidade de Deus?

Resposta
Grandes mentes teológicas tiveram que se debater com essa mesma questão, muitas vezes durante a resposta a falsos mestres. Quando os primeiros teólogos formularam suas respostas, eles mantiveram as afirmações das Escrituras.

Por um lado, eles defendiam a plena divindade de Jesus Cristo, e com razão. Há passagens bíblicas que afirmam explicitamente a Sua divindade, como João 1:1, e outras passagens que implicam a Sua divindade ao mostrá-Lo realizando ações que somente Deus pode fazer: julgar a humanidade, perdoar pecados, curar pessoas e criar o cosmos.

Ao mesmo tempo, os primeiros teólogos defendiam a plena humanidade de Jesus Cristo. As Escrituras provam que Jesus era um ser humano, capaz de sofrer, morrer e experimentar fraquezas, tanto físicas quanto emocionais.

Quando "o Verbo se fez carne" (João 1:14), Ele não se tornou duas pessoas (uma divina e uma humana), mas tornou-se uma Pessoa com duas naturezas distintas, uma natureza totalmente divina e uma natureza totalmente humana. O Verbo permaneceu inalterado ao entrar em uma união com a natureza humana sem pecado em um corpo físico (Hebreus 10:5).

Aqui está a resposta específica para a pergunta: quanto à natureza divina de Jesus, Ele é imutável. Quanto à Sua natureza humana, Ele é mutável. Como Deus, Jesus é imutável, infinito, sempre supremo em todos os sentidos. Mas quanto à Sua natureza humana, Ele é mutável, sujeito à fraqueza, capaz de sofrer, capaz de morrer. Ele é simultaneamente divino e humano, infinitamente forte e sofrendo fraqueza, imortal e mortal. Ele é o Deus-homem.

O Filho de Deus não mudou a Sua natureza na Encarnação. A natureza divina não se "misturou" com a natureza humana - isso exigiria uma mudança. Em vez disso, a natureza divina reside com a natureza humana na Pessoa de Cristo. A Encarnação significa que Jesus pode reivindicar tanto a Sua natureza divina quanto a Sua natureza humana.

Em João 17:5, Jesus ora ao Pai: "E agora, ó Pai, glorifica-me contigo mesmo com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo." Ambas as naturezas de Jesus são evidentes nesse pedido. Ele se refere à Sua pré-existência com Deus, na qual compartilhava a glória do Pai (evidenciando a Sua natureza divina), e pede para ser glorificado (evidenciando a Sua natureza humana).

Deus deve ser imutável, pois não pode se degradar em um estado pior e não pode melhorar em um estado melhor. Ele é sempre perfeito e, como Deus, não pode ser diferente. A perfeição é absoluta, e é impossível para Ele ser "mais perfeito". Por outro lado, um ser humano não tem capacidades infinitas. Um ser humano é finito e mutável e sempre tem espaço para melhorar, o que explica o fato de que Jesus "crescia em sabedoria e estatura, e em graça para com Deus e os homens" (Lucas 2:52).

No final, as grandes mentes teológicas dos séculos IV e V que lutaram com esse problema responderam dizendo, em muitas palavras: "Não podemos explicar totalmente, mas com base nas Escrituras, sabemos que Jesus Cristo era humano e divino. Somos obrigados a afirmar o que as Escrituras afirmam, mesmo que tenhamos que admitir que os aspectos da Encarnação são um mistério maravilhoso. Misterioso ou não, declaramos o que Deus nos revelou a respeito disso."

Há uma conexão maravilhosa com nossa salvação que flui desse mistério da Encarnação. É o fato de Cristo, Deus o Filho encarnado, ser o embaixador ideal entre Deus e a humanidade (1 Timóteo 2:5). Como Deus, Ele pode perfeitamente representar Deus para nós; como humano, Ele pode perfeitamente servir como nosso advogado perante Deus, o Pai, fazendo as pazes em nosso favor. "Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Mas, se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo" (1 João 2:1).