Pergunta

Qual é o significado de "Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu"?

Resposta
A origem da expressão "Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu" é desconhecida, mas ela já era usada desde pelo menos o século XVIII. Às vezes, é abreviada para "Lá, não fosse a graça de Deus" ou simplesmente "Não fosse a graça de Deus".

Seja qual for a forma de expressão, "Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu" é uma declaração de humildade e gratidão que reconhece a própria natureza pecaminosa e a necessidade da graça de Deus. Uma das primeiras atribuições do ditado é a John Bradford, um reformador inglês, que supostamente o disse enquanto observava as pessoas sendo levadas à execução por seus crimes. De certa forma, ele estava dizendo: "Esse poderia ter sido eu, se não fosse pela graça de Deus".

Em um uso mais secular, Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu pode significar algo como: "Ainda bem que isso não aconteceu comigo". Sir Arthur Conan Doyle usou uma versão do ditado em uma de suas histórias de Sherlock Holmes e o atribui ao líder puritano Robert Baxter (The New Annotated Sherlock Holmes, Vol. 1, Klinger, L., ed., W. W. Norton & Co., 2005, p. 101).

De certa forma, a atitude de "Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu" é um antídoto para o julgamento. Quando vemos alguém que está mal, que está sofrendo dificuldades ou que está colhendo consequências desagradáveis, podemos reagir de duas maneiras básicas. Podemos dizer: "Ele merece isso e deveria ter feito escolhas melhores", ou podemos dizer: "Se não fosse pela graça de Deus, poderia ter sido eu". A primeira resposta é o que os três amigos de Jó acabaram escolhendo; a segunda resposta demonstra empatia, pois reconhecemos a bondade de Deus para conosco e estendemos essa bondade à pessoa em dificuldade.

No cerne do ditado Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu está uma ideia muito presente nas Escrituras. O apóstolo Paulo descreve a graça de Deus em 1 Coríntios 15:9-10: "Porque eu sou o menor dos apóstolos, e nem mesmo sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou. E a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã. Pelo contrário, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo."

Paulo não tinha ilusões de que possuía qualificações ou atributos especiais que o tornavam digno do chamado de apóstolo. Na verdade, antes de Paulo encontrar Jesus na estrada para Damasco (Atos 9), ele estava sistematicamente prendendo cristãos e participou de pelo menos um assassinato (Atos 7:57-58). Passar de matar aqueles que acreditavam em Jesus para proclamar as boas novas de Jesus só pode ser uma obra da graça de Deus.

Assim como Paulo, não temos qualidades especiais que nos tornem dignos de salvação. Antes de Deus nos salvar, estávamos "mortos em [nossas] transgressões e pecados" (Efésios 2:1). Deus perdoou nosso pecado em Cristo e nos ressuscitou para uma nova vida (Romanos 6:4). Não há nada em nós, sobre nós ou feito por nós que possa merecer a graça de Deus. Nós simplesmente a recebemos por meio da fé (Efésios 2:8-9).

Quando um cristão diz: "Lá, não fosse a graça de Deus, iria eu", ele está expressando gratidão pelas "riquezas da graça de Deus, que ele derramou sobre nós" (Efésios 1:7-8) e, ao mesmo tempo, confessando sua natureza e a tendência que todos nós temos para a destruição. É o poder gracioso e preservador de Deus que nos fortalece na tentação, nos sustenta em meio às dificuldades e nos impede de nos arruinarmos completamente.

Paulo nos admoestou a manter um espírito humilde: "Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um de vocês que não pense de si mesmo além do que convém. Pelo contrário, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um" (Romanos 12:3). E ele escolheu viver diariamente sob a graça que lhe foi concedida gratuitamente: "Mas, pela graça de Deus, sou o que sou", escreveu ele. E nós também somos.