Pergunta

João 7:53-8:11 faz parte da Bíblia?

Resposta
A história da mulher apanhada em adultério é encontrada em João 7:53-8:11. Essa seção das Escrituras, às vezes chamada de pericope adulterae, tem sido o centro de muita controvérsia ao longo dos anos. A questão é sua autenticidade. O apóstolo João escreveu João 7:53-8:11, ou a história da mulher adúltera perdoada por Jesus é uma inserção posterior e não inspirada no texto?

O Textus Receptus inclui João 7:53-8:11, e a maioria dos textos gregos também. Essa é a razão pela qual a versão Almeida do Novo Testamento (baseada no Textus Receptus) inclui a seção como parte original do Evangelho de João. No entanto, traduções mais modernas, como a NVI e a NVT, incluem a seção, mas a classificam como não original. Isso ocorre porque os primeiros manuscritos gregos (e muitos diriam que são os mais confiáveis) não incluem a história da mulher apanhada em adultério.

Os manuscritos gregos mostram evidências bastante claras de que João 7:53-8:11 não fazia originalmente parte do Evangelho de João. Entre os manuscritos que contêm a seção, no todo ou em parte, há variações de posicionamento. Alguns manuscritos colocam a pericope adulterae depois de João 7:36, outros depois de João 21:25, e alguns até a colocam no Evangelho de Lucas (depois de Lucas 21:38 ou 24:53).

Há evidências internas, também, de que João 7:53-8:11 não é original do texto. Por um lado, a inclusão desses versículos quebra o fluxo da narrativa de João. Ler de João 7:52 a João 8:12 (pulando a seção debatida) faz todo o sentido. Além disso, o vocabulário usado na história da mulher adúltera é diferente do que é encontrado no restante do Evangelho de João. Por exemplo, João nunca se refere a "os escribas" em nenhum lugar de seu livro - exceto em João 8:3. Há treze outras palavras nessa curta seção que não são encontradas em nenhum outro lugar do Evangelho de João.

Certamente parece que, em algum momento, um escriba adicionou essa história de Jesus ao Evangelho de João em um lugar onde achou que ela se encaixaria bem. Muito provavelmente, a história já circulava há muito tempo - era uma tradição oral - e um escriba (ou escribas) achou que, como já era aceita como verdade por consenso, era apropriado incluí-la no texto das Escrituras. O problema é que a verdade não é determinada por consenso. A única coisa que devemos considerar como Escritura inspirada é o que os profetas e apóstolos escreveram, pois eles "falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:21).

Aqueles que defendem a inclusão da história da mulher apanhada em adultério apontam para o grande número de manuscritos gregos que contêm essa passagem. Eles explicam sua omissão nos primeiros manuscritos como uma tentativa dos líderes da igreja excessivamente zelosos de evitar mal-entendidos. Aqui está a teoria daqueles que defendem a inclusão: João escreveu a passagem exatamente como ela aparece no Textus Receptus. Mas os líderes posteriores da igreja consideraram a passagem moralmente perigosa - uma vez que Jesus perdoa a mulher, as esposas poderiam pensar que poderiam cometer adultério e sair impunes. Assim, os líderes da igreja adulteraram a Palavra de Deus e removeram a passagem. Eles argumentaram que deixar a passagem seria fazer com que Jesus parecesse "brando" em relação ao adultério. Mais tarde, os escribas, seguindo a orientação do Espírito Santo, reinseriram a perícope, que nunca deveria ter sido removida em primeiro lugar.

O fato, porém, é que João 7:53-8:11 não é apoiado pela melhor evidência manuscrita. Portanto, há sérias dúvidas quanto à sua inclusão na Bíblia. Muitos pedem que os editores da Bíblia removam esses versículos (juntamente com Marcos 16:9-20) do texto principal e os coloquem em notas de rodapé.

Como estamos falando sobre certas edições da Bíblia estarem "erradas" em determinados aspectos, devemos incluir algumas palavras sobre a inerrância das Escrituras. Os autógrafos originais são inerrantes, mas nenhum dos autógrafos originais está presente (em existência). O que temos hoje são milhares de documentos antigos e citações que nos permitiram recriar (virtualmente) os autógrafos. Uma frase, um versículo ou uma seção ocasional pode ser analisada e debatida pela escolástica, mas nenhuma doutrina importante das Escrituras é colocada em dúvida devido a essas incertezas. O fato de os manuscritos serem objeto de estudo contínuo não prova que há algo errado com a Palavra de Deus; é um fogo refinador - um dos processos que Deus ordenou para manter a Sua Palavra pura. A crença na inerrância sustenta uma investigação reverente e cuidadosa do texto.