Pergunta

O que é o Evangelho Secreto de Marcos?

Resposta
No final da década de 1950, um acadêmico da Universidade de Columbia chamado Morton Smith alegou ter descoberto parte de uma carta de Clemente de Alexandria, copiada nas páginas em branco no final de uma impressão do século XVII das cartas de Inácio. A transcrição pessoal de Morton e a tradução dessas palavras - publicadas anos depois - são as únicas versões disponíveis. O texto original do qual ele supostamente copiou as palavras foi perdido. Ele só foi visto por Smith e talvez por duas outras pessoas. De acordo com Smith, o que ele descobriu foi uma referência de Clemente a um evangelho "secreto" de Marcos: uma versão supostamente ampliada do Evangelho bíblico de Marcos.

Smith afirma que Clemente fez duas citações desse Evangelho Secreto de Marcos. Uma delas envolve Jesus ressuscitando um jovem, que então passa a noite com Jesus em algum estado de nudez. A outra implica que Jesus rejeitou a família do jovem. O suposto objetivo de Clemente ao citar esses relatos é dizer ao destinatário da carta, Teodoro, que negue a autenticidade do Evangelho Secreto de Marcos. Ao fazer isso, de acordo com Smith, Clemente afirma que Marcos expandiu o seu evangelho e que apenas algumas pessoas selecionadas deveriam aprender os segredos contidos nessa versão atualizada.

Não é de surpreender que praticamente tudo sobre o Evangelho Secreto de Marcos seja contestado pelos estudiosos. As palavras citadas por Smith são encontradas apenas no texto que ele transcreveu de uma cópia encontrada escrita no verso de uma obra separada do século XVII. Ao contrário das Escrituras reais, que têm uma rastreabilidade excepcional, essas palavras têm literalmente nenhum apoio. Se fossem reais, esses fragmentos seriam as únicas cópias das cartas de Clemente que se sabe que existem.

Ainda mais condenatório é o fato de que o Evangelho Secreto de Marcos nunca é mencionado em nenhum outro lugar, em nenhuma outra fonte, em toda a literatura antiga. Outras obras contestadas, como os Atos Apócrifos e os Evangelhos da Infância, foram mencionadas por muitos pais da igreja primitiva para refutar heresias. Além disso, os estudiosos questionaram as afirmações de Smith com base em anacronismos no texto, contradições com outros escritos de Clemente e até mesmo a caligrafia encontrada nas imagens produzidas por Smith.

Em resumo, o consenso acadêmico é praticamente certo de que o Evangelho Secreto de Marcos é uma obra fictícia, que provavelmente nunca existiu. O único debate que continua é se Morton Smith fabricou o texto inteiro para reivindicar uma descoberta. Nem todos os estudiosos acreditam que esse seja o caso. E, no entanto, o quadro completo das alegações de Smith leva a uma suspeita persistente de que o texto foi forjado para apoiar seus objetivos profissionais, éticos e pessoais.