Pergunta
O que Jesus quis dizer quando afirmou que devemos comer a Sua carne e beber o Seu sangue?
Resposta
Em João 6:53-57, Jesus diz: "Em verdade, em verdade lhes digo que, se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em vocês mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu permaneço nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo por causa do Pai, também quem de mim se alimenta viverá por mim." Ao ouvir essas palavras, muitos dos seguidores de Jesus disseram: "Duro é este discurso" (versículo 60), e muitos deles realmente pararam de segui-lo naquele dia (versículo 66).
As imagens gráficas de Jesus sobre comer a Sua carne e beber o Seu sangue são de fato intrigantes a princípio. O contexto nos ajudará a entender o que Ele está dizendo. Ao considerarmos tudo o que Jesus disse e fez em João 6, o significado de Suas palavras se torna mais claro.
No início do capítulo, Jesus alimentou 5.000 pessoas (João 6:1-13). No dia seguinte, as mesmas multidões continuaram a segui-lo, buscando outra refeição. Jesus chamou a atenção para a miopia deles: estavam buscando apenas pão físico, mas havia algo mais importante: "Trabalhem, não pela comida que se estraga, mas pela que permanece para a vida eterna" (versículo 27). Nesse ponto, Jesus tenta desviar a perspectiva deles do sustento físico para a sua verdadeira necessidade, que era espiritual.
Esse contraste entre o alimento físico e o espiritual prepara o terreno para a declaração de Jesus de que devemos comer a Sua carne e beber o Seu sangue. Jesus explica que não é de pão físico que o mundo precisa, mas de pão espiritual. Jesus se identifica três vezes como esse pão espiritual (João 6:35, 48, 51). E duas vezes Ele enfatiza a fé (uma ação espiritual) como a chave para a salvação: "A vontade de meu Pai é que todo aquele que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (versículo 40); e "Em verdade, em verdade lhes digo: quem crê em mim tem a vida eterna" (versículo 47).
Jesus então se compara e contrasta com o maná que Israel havia comido na época de Moisés: "Os pais de vocês comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça" (João 6:49-50). Como o maná, Jesus desceu do céu; e, como o maná, Jesus dá vida. Ao contrário do maná, a vida que Jesus dá dura por toda a eternidade (versículo 58). Dessa forma, Jesus é maior do que Moisés (veja Hebreus 3:3).
Depois de estabelecer a Sua metáfora (e o fato de que Ele está falando da fé nEle), Jesus pressiona o simbolismo ainda mais: "Em verdade, em verdade lhes digo que, se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em vocês mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu permaneço nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo por causa do Pai, também quem de mim se alimenta viverá por mim" (João 6:53-57).
Para evitar ser mal interpretado, Jesus especifica que está falando metaforicamente: "O Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que eu lhes tenho falado são espírito e são vida" (João 6:63). Aqueles que não entenderam Jesus e ficaram ofendidos com o fato de Ele falar sobre comer a Sua carne e beber o Seu sangue estavam presos a uma mentalidade física, ignorando as coisas do Espírito. Eles estavam preocupados em obter outra refeição física, por isso Jesus usa o reino do físico para ensinar uma verdade espiritual vital. Aqueles que não conseguiam passar do físico para o espiritual deram as costas a Jesus e foram embora (versículo 66).
Na Última Ceia, Jesus dá uma mensagem semelhante e que complementa Suas palavras em João 6 - quando os discípulos se reúnem para partir o pão e beber o cálice, eles "proclamam a morte do Senhor até que ele venha" (1 Coríntios 11:26). De fato, Jesus disse que o pão partido à mesa é o Seu corpo, e o cálice que eles bebem é a nova aliança em Seu sangue, derramado para o perdão dos pecados (Mateus 26:26-28). O ato de comer e beber deveria ser um símbolo de sua fé em Cristo. Assim como o alimento físico dá vida terrena, o sacrifício de Cristo na cruz dá vida celestial.
Algumas pessoas acreditam que o pão e o vinho da comunhão são de alguma forma transformados na carne e no sangue reais de Jesus, ou que Jesus de alguma forma imbui essas substâncias com a Sua presença real. Essas ideias, chamadas de transubstanciação (professada pelas igrejas católica e ortodoxa) e consubstanciação (defendida por alguns luteranos), ignoram a declaração de Jesus de que "a carne para nada aproveita" (João 6:63). A maioria dos protestantes entende que Jesus estava falando metaforicamente sobre a Sua carne e o Seu sangue e afirma que o pão e o vinho são símbolos do vínculo espiritual criado com Cristo por meio da fé.
No teste do deserto, o diabo tenta Jesus com pão, e Jesus responde: "O ser humano não viverá só de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mateus 4:4, citando Deuteronômio 8:3). A implicação é que o pão é a Palavra de Deus e é isso que nos sustenta. Jesus é chamado de a Palavra de Deus que veio à Terra e se fez carne (João 1:14). A Palavra de Deus também é o Pão da Vida (João 6:48).
O livro de Hebreus faz referência à maneira como Deus usa as coisas físicas da Terra para nos ajudar a entender e aplicar a verdade espiritual. Hebreus 8:5 diz que algumas coisas tangíveis são "figura e sombra das coisas celestiais", e esse capítulo explica como a Antiga Aliança, tão preocupada com ritos e cerimônias físicas, foi substituída pela Nova Aliança, na qual as leis de Deus estão escritas em nossos corações (versículo 10; cf. Jeremias 31:33).
Hebreus 9:1-2 diz: "Ora, a primeira aliança também tinha preceitos de culto divino e o seu santuário terrestre. Porque foi edificado um tabernáculo, cuja parte da frente, onde estavam o candelabro, a mesa e os pães da proposição, se chama o Santo Lugar." De acordo com Hebreus 8:5, o pão consagrado, ou o "pão da Presença", era uma representação física de um conceito espiritual, ou seja, a presença real de Deus que está continuamente conosco hoje. A tenda física de reunião foi substituída por um templo espiritual de Deus (1 Coríntios 3:16), e o pão físico da Presença tornou-se o pão espiritual que habita em nós por meio do Espírito Santo.
Quando Jesus disse que devemos "comer a carne do Filho do Homem e beber o seu sangue" (João 6:53), Ele falou, como sempre fez, em termos parabólicos. Precisamos recebê-lo pela fé (João 1:12). "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados" (Mateus 5:6). Entendemos que precisamos de alimento e bebida físicos; Jesus quer que entendamos que também precisamos de alimento e bebida espirituais - e é isso que o Seu sacrifício proporciona.
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O que Jesus quis dizer quando afirmou que devemos comer a Sua carne e beber o Seu sangue?
