Pergunta
Qual é a origem do cristianismo?
Resposta
"E ele é a cabeça do corpo, a igreja; ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos (...) o mistério que esteve oculto por séculos e gerações, mas que agora foi revelado aos santos (...). Cristo em vós, a esperança da glória" (Colossenses 1:18, 26-28).
Discutir a origem do cristianismo requer a revisão de uma história intrincada que abrange o tempo e a eternidade. Em vez de um simples início, consideramos a origem do cristianismo a partir de vários pontos de vista. Atos 2 registra o nascimento da igreja no Pentecostes. Essa foi, de fato, uma Festa da Colheita (Êxodo 23:16), porque uma colheita de cerca de 3.000 almas ocorreu naquele dia, quando o Espírito Santo veio sobre os apóstolos e discípulos (Atos 2:1-41). Biblicamente, o cristianismo não é um edifício ou religião, mas a igreja ou casa de Deus. Ela está incorporada em Cristo e em Seu povo, individual e coletivamente. Antes do início dos tempos, a igreja foi concebida na mente de Deus. Então, "quando chegou a plenitude do tempo" (Gálatas 4:4), Deus enviou o Seu único filho, "nascido de mulher, nascido sob a lei" para ser o verdadeiro fundador, alicerce e cabeça da igreja (1 Coríntios 3:11). Como o primeiro dos escolhidos (1 Pedro 2:6), Jesus, o ungido, morreu como o perfeito cordeiro da Páscoa cinquenta dias antes dos eventos de Atos 2. Antes disso, Ele preparou os apóstolos por três anos, dando-lhes a Palavra do Pai e mantendo-os em Seu nome (João 17:12, 14). Depois de Sua ressurreição, Ele soprou nos apóstolos o fôlego da vida eterna na forma do Espírito Santo, que deveria habitar neles (João 20:22; cf. João 14:25-26). Eles se tornaram as sementes da nova igreja, que brotaram em milhares quando o Espírito Santo veio sobre eles, capacitando-os a testemunhar, pregar e cumprir a missão que Jesus lhes deu. Ao ressuscitar dos mortos, Jesus foi o primeiro fruto do Reino de Deus; "então, quando ele vier, os que lhe pertencem também ressuscitarão, para nunca mais morrerem" (João 11:25-26). Portanto, Jesus é o único alicerce e fonte da igreja.
O Antigo Testamento profetizou que um "rebento" sairia do "tronco" de Jessé (pai do rei Davi) e que esse "ramo" daria frutos (Isaías 11:1, 10). Jesus é esse Messias ou Cristo. Ele é a esperança de judeus e gentios. "Virá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão" (Romanos 15:12; cf. Apocalipse 5:5; 22:16). Pedro aprendeu que Jesus não é apenas um ser humano, o Filho de Davi, quando Deus lhe mostrou que Jesus é "o Filho do Deus vivo". A isso, Jesus acrescentou que Ele mesmo é a Rocha ou o alicerce sobre o qual Ele edificaria Sua igreja (Mateus 16:16-18; veja também Isaías 26:4). A edificação da igreja sobre Jesus, a Rocha de Israel (Isaías 30:29), é ensinada em 2 Coríntios 6:16 (ver também Efésios 2:21-22).
Alguns escritores mencionam que a palavra para "igreja" no original grego é ecclesia, que significa "uma assembleia chamada" (εκκλησιαν - Mateus 16:18) e que a igreja é formada pelos "eleitos" ou escolhidos (Marcos 13:20; Lucas 18:7; Romanos 8:33). Sim, os eleitos foram chamados para fora do reino das trevas, mas também fomos chamados para a família de Deus como filhos adotivos. "O próprio Espírito confirma ao nosso espírito que somos filhos de Deus" (Romanos 8:16; cf. Efésios 5:1, 8). Somos escolhidos, mas Jesus é o primeiro dos escolhidos (1 Pedro 2:6), e Ele vive em nós à medida que vivemos ou permanecemos nEle (João 8:31; 15:4-9).
Os cristãos estão individualmente em Cristo, assim como a igreja como um todo está em Cristo (Romanos 12:5; 1 Coríntios 1:2, 30). O mistério de Cristo e da Igreja é revelado na discussão de Paulo sobre o mistério pelo qual dois se tornam "uma só carne" no casamento, em Efésios 5. Lá, o apóstolo escreve que "este mistério é profundo", referindo-se a Cristo e à Igreja (Efésios 5:32). O tempo verbal da palavra grega traduzida como "mistério" (μυστηριον) é singular. Esse detalhe gramatical mostra que, em sua unidade, Cristo e a igreja são um mistério. Eles não são uma mistura ou um composto; em vez disso, sua união é como a de um homem e uma mulher no santo matrimônio que se tornam "uma só carne" ou uma nova unidade familiar sem abrir mão de sua individualidade (Gênesis 2:24). No casamento, um casal se torna "parente" legal, mesmo que não sejam parentes de sangue, como Adão e Eva eram. Da mesma forma, por meio de Cristo, Deus adota legalmente os escolhidos como filhos (Efésios 1:5). Por causa disso, e porque Cristo vive em cada membro da igreja, Seu corpo espiritual, Ele é nossa esperança de glória (Colossenses 1:18, 26-28). A presença de Cristo nos cristãos responde à oração de Jesus em João 17: "Não peço somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por meio da palavra que eles falarem, a fim de que todos sejam um. E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (João 17:20-21; veja também João 17:11).
A conexão entre as palavras "igreja" e "cristianismo" é antiga e complicada, mas podemos simplesmente dizer que os cristãos não vão à igreja; ao contrário, eles são a igreja. A maioria dos discípulos que se juntaram à igreja em crescimento eram judeus. Assim como Paulo (Filipenses 3:5; Romanos 11:1), eles se consideravam israelitas, descendentes de Abraão, a quem pertenciam as alianças, a entrega da lei, etc. (Romanos 9:4-5). Eles reconheciam o Senhor Jesus como Messias e Deus, mas não se chamavam (a princípio) de "cristãos". Em Antioquia, no primeiro século, as pessoas de fora chamaram pela primeira vez os seguidores de Cristo de "cristãos" (Atos 11:26). Eles achavam que "Cristo" era o nome próprio do Deus que adoravam, sem saber que "Cristo" significa "ungido" e que Jesus é o Cristo. Quanto à "igreja", alguns dos primeiros escritores cristãos usavam essa palavra para se referir ao local onde as pessoas adoravam (ou seja, o prédio da igreja). Mas no Novo Testamento, a palavra traduzida como "igreja" refere-se à "família de Deus". Em Efésios 2:19, a palavra grega traduzida como "casa" é οἰκεῖοι. Essa forma plural refere-se a todos aqueles que pertencem à família imediata de Deus, ou seja, aqueles que são espiritualmente família na fé (Gálatas 6:10; Efésios 2:19). Como membros dessa família universal, os cristãos criaram raízes e floresceram entre os vários povos e em quase todos os grupos linguísticos do mundo.
Agora, vamos olhar além da história para refletir sobre as origens eternas da igreja (ou seja, o "cristianismo") na mente de Deus. Assim como Deus escolheu Israel (Deuteronômio 7:6; 26:18), Ele também elegeu a igreja em Cristo "antes da fundação do mundo" (Efésios 1:4). Na eternidade passada, Deus desejou que os eleitos fossem salvos e se tornassem parte de Sua família por adoção. "... nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade" (Efésios 1:5). No entanto, a igreja nascida no Pentecostes ainda não realizou seu propósito final em seu desenvolvimento. A igreja ainda não é a noiva imaculada de Cristo (Apocalipse 19:6-8), de acordo com o propósito de Deus para ela, conforme lemos em Efésios 1:4: "Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele". O cumprimento desse propósito profético que Deus estabeleceu em Cristo (Romanos 8:28; 9:11) "... de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra" (Efésios 1:10) não depende de "... as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos" (2 Timóteo 1:9).
Um dos motivos pelos quais a igreja "visível" não é perfeita é que em suas fileiras há falsos cristãos. Jesus disse aos apóstolos que dentro da igreja haveria uma mistura de "trigo e joio", santos genuínos e pecadores secretos, impenitentes e enganados (hipócritas). Considerando que Cristo ainda não retornou em poder e glória (Mateus 26:64; Marcos 13:26) e que os eleitos ainda não foram revelados como filhos de Deus (Romanos 8:19; 1 João 3:2), o mistério de Cristo e da igreja, mantido em segredo por longas eras (Romanos 16:25), permanece parcialmente oculto. A revelação da igreja não ocorrerá até o momento em que formos transformados, como diz 1 Coríntios 15:51-53. A verdadeira esperança para os cristãos não é que seremos imortais (os condenados no inferno também serão imortais, mas estarão sem Cristo), mas que Cristo vive em nós agora (Colossenses 1:28).
Isso nos leva a uma reflexão final sobre a atual ocultação da igreja e sua revelação final. Fomos redimidos, não somos mais escravos do pecado e a morte não tem mais domínio sobre nós (Romanos 6:5-9). No entanto, nosso "corpo de pecado" ou "corpo de morte" (Romanos 6:6; 7:24) ainda não foi "reduzido a nada". Ainda aguardamos a ressurreição e a redenção de nossa carne manchada pelo pecado. Isso ocorrerá quando o Senhor voltar para nos buscar. Então, "seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele é" (1 João 3:2). Então, nossos corpos espirituais gloriosos e imperecíveis serão revelados (Filipenses 3:20-21), e não seremos mais sobrecarregados pelo que resta da mente carnal ou pecaminosa. Assim, em um sentido real, a igreja ou o cristianismo em sua perfeição, como a noiva imaculada e glorificada de Cristo, continua a usar um véu discreto, até que seja chamada ao céu em glória na ceia das bodas do Cordeiro. Esse evento é profetizado em Apocalipse 19:6-8, onde lemos: "Então ouvi o que parecia ser a voz de uma grande multidão, uma voz como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: 'Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque chegou a hora das bodas do Cordeiro, e a noiva dele já se preparou. A ela foi permitido vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro.' Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos."
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