Pergunta
Qual é a diferença entre interpretação e aplicação?
Resposta
Tanto a interpretação quanto a aplicação das Escrituras são de vital importância. A interpretação é o processo de determinar o significado de uma passagem das Escrituras ou, mais precisamente, o que ela teria significado para o público original. Para interpretar corretamente, é preciso considerar o contexto cultural, histórico e literário, bem como as estruturas gramaticais e o significado das palavras em seu idioma original (usando comentários e ferramentas linguísticas se não for proficiente em hebraico ou grego).
A interpretação deve vir em primeiro lugar. Não se pode saber como aplicar uma passagem das Escrituras antes de determinar o que ela significa. "O que isso significa para mim?" não é uma boa pergunta para se fazer no estágio de interpretação, mas pode ser apropriada para a aplicação. Com muita frequência, os leitores da Bíblia passam para a aplicação sem determinar o significado real de um texto.
A aplicação é o processo de colocar o significado das Escrituras em ação no contexto específico do leitor.
A seguir, um exemplo da diferença entre interpretação e aplicação:
Em Marcos 12:31, Jesus afirmou o princípio "você deve amar o seu próximo como a si mesmo".
No estágio interpretativo, o leitor da Bíblia precisaria determinar quem é o próximo. Fazendo um pequeno estudo, o intérprete poderia determinar que um próximo é essencialmente qualquer pessoa que ele ou ela possa encontrar ao longo da jornada da vida. Se o intérprete simplesmente assumir uma definição moderna de próximo - "alguém que mora na minha rua" - então o princípio de Jesus não poderá ser aplicado como o Senhor pretendia.
Para continuar a interpretar Marcos 12:31, o estudante da Bíblia também precisaria determinar o que é o amor. No contexto ocidental moderno, o amor é geralmente pensado em termos românticos ou eróticos. Se o estudante da Bíblia tentar aplicar esse entendimento a "amar o próximo", pode haver algumas repercussões desfavoráveis. Entretanto, um estudo mais aprofundado levaria o intérprete às características do amor encontradas em 1 Coríntios 13. O intérprete poderia, por fim, chegar a uma definição bíblica de amor, que seria algo como "cuidar dos melhores interesses dos outros, mesmo que isso não seja do seu interesse".
Juntando tudo isso, a interpretação correta de "amar o próximo como a si mesmo" é que devemos buscar os melhores interesses de qualquer pessoa que encontrarmos. Isso é muito diferente de abraçar e beijar a pessoa que mora ao lado.
A aplicação é colocar em ação a verdade de uma passagem em um contexto específico. Usando o exemplo de amar o próximo, suponha que haja uma senhora idosa na casa ao lado que luta toda semana para levar sua lata de lixo até o meio-fio e depois de volta para a garagem no dia do lixo. Para demonstrar amor, uma pessoa pode começar a levar a lata até o meio-fio no dia do lixo e levá-la de volta à garagem no final do dia. Outra pessoa pode decidir que contratará um garoto da vizinhança para fazer essa tarefa toda semana ou pedirá a um de seus próprios filhos que a faça. A interpretação da passagem não tem nada a ver com latas de lixo, meios-fios, garagens ou dias de lixo, mas a aplicação pode ter. Nenhuma passagem da Bíblia pode ser interpretada de forma a significar algo que o autor original ou os leitores originais não poderiam ter entendido, mas pode ser aplicada em situações que os autores humanos originais jamais poderiam ter imaginado.
A aplicação requer discernimento. Um motorista que passa por outro motorista preso na estrada precisa decidir como aplicar a passagem sobre amar o próximo. Ele pode parar para ajudar o motorista preso ou se oferecer para dar uma carona. Mas e se a pessoa com o veículo que está trabalhando for uma mãe com três filhos no carro e o carro encalhado tiver dois ou mais homens? Ela precisará equilibrar a preocupação com os homens presos com a preocupação com seus três filhos, que, biblicamente falando, também são seus próximos. Em vez de parar e se aproximar deles na estrada, ela pode, de uma distância segura, oferecer-se para fazer uma ligação para eles. Essas são questões de aplicação, não de interpretação. A maneira como uma pessoa demonstra amor ao próximo pode ser completamente diferente da maneira como outra pessoa o faz, mas ambas podem estar interpretando a passagem da mesma maneira. Há uma interpretação correta de uma passagem, mas muitas aplicações possíveis.
A interpretação sem aplicação é simplesmente um estudo bíblico morto. A Palavra de Deus não se destina a ser abordada em um nível puramente acadêmico, sem que se pense em colocá-la em prática. A Palavra deve nos transformar. Jesus falou sobre os escribas que estudavam as Escrituras, mas não as colocavam em prática (João 5:39). Tiago admoestou: "Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos" (Tiago 1:22).
As tentativas de aplicação sem interpretação são igualmente imprudentes. Aplicar uma passagem das Escrituras sem nunca dedicar tempo para determinar o que ela significa seria como começar uma viagem pelo país sem nunca consultar um mapa. Pode haver muito entusiasmo e atividade, mas o carro pode estar indo na direção errada.
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