Pergunta
Você pode me dar uma cronologia da vida de Jesus?
Resposta
Qualquer cronologia da vida de Jesus é especulativa até certo ponto. Nenhum dos evangelhos apresenta a vida de Cristo em ordem cronológica. Em vez disso, a maior parte do material dos evangelhos está organizada em ordem tópica, de acordo com as coisas que cada autor quis enfatizar. Além disso, os escritores incluem detalhes que são importantes para seus próprios temas, portanto, em alguns casos, é difícil dizer se um incidente semelhante aconteceu em duas ocasiões diferentes ou se o mesmo incidente é simplesmente contado de uma perspectiva diferente.
Nada disso deve ser motivo de preocupação com relação à confiabilidade dos evangelhos. Nenhum dos evangelhos pretende ser uma biografia completa e, de fato, eles são bastante curtos, considerando o período de tempo que cobrem. Os escritores dos evangelhos foram seletivos em seu material. Eles nos dão uma compreensão completa de quem é Jesus, o que Ele ensinou e Sua importância para nós hoje, mas não nos dão uma compreensão muito boa da ordem em que Jesus fez as coisas. Esse não era o propósito deles.
Há vários planos de leitura do Novo Testamento que apresentam os evangelhos entrelaçados "cronologicamente" - na opinião do editor do plano. Entretanto, outros editores podem organizar os eventos em uma ordem diferente.
Dito isso, há alguns eventos que podem ser colocados em uma estrutura ampla:
João começa com o Jesus pré-existente em 1:1-3.
Lucas fala sobre o nascimento de Cristo em Belém e a visita dos pastores naquela mesma noite (capítulo 2).
Mateus 2 fala da visita dos magos ao menino Jesus em Belém. Presumimos que essa visita ocorreu em um momento posterior ao dos pastores porque, quando eles chegaram, Maria e José já estavam morando em uma casa. Mateus 2 também fala da fúria de Herodes e da fuga de Maria, José e Jesus para o Egito, onde permaneceram por um tempo não especificado. Quando a ameaça acabou, eles voltaram para Nazaré, onde Jesus cresceu.
Há apenas um incidente mencionado na infância de Jesus - a viagem a Jerusalém, onde os pais de Jesus perderam o rastro dEle. Quando finalmente O encontraram, Ele estava no templo ouvindo e fazendo perguntas, para espanto dos que O ouviam (Lucas 2:41-52).
O próximo incidente encontrado em Mateus, Marcos e Lucas é o batismo de Jesus, imediatamente seguido por Sua tentação no deserto. Esse parece ser o início oficial do ministério público de Jesus. Em seguida, ocorre a escolha dos discípulos e o início de um ministério itinerante.
Durante a vida de Jesus, Ele passou muito tempo na Galileia, que parece ter sido o local onde Ele estava sediado, mas frequentemente fazia viagens a Jerusalém para as festas. (A suposição de que o ministério de Jesus durou aproximadamente 3 anos baseia-se no número de vezes que Jesus foi a Jerusalém para a Páscoa. No entanto, mesmo isso é especulativo, pois não há garantia de que todas as Páscoas que Jesus observou estejam registradas nos evangelhos). Foi durante essas visitas a Jerusalém que Ele frequentemente entrou em conflito com a liderança judaica. Ele realizou muitos milagres de cura e alimentação, mas, novamente, os evangelhos organizam o material tematicamente sem tentar fornecer uma cronologia verdadeira dos eventos. Durante todo esse tempo, Jesus está gradualmente se revelando aos discípulos e também os preparando para a Sua morte.
Depois de um ministério que abrangeu a Judéia, Samaria e Galileia, Jesus finalmente sai da Galileia na época da Páscoa para o que Ele sabe que será Sua última viagem a Jerusalém. Todos os evangelhos dão muita atenção a essa viagem final e aos eventos que acontecem quando Jesus chega à capital. Desde a entrada triunfal até a ressurreição, Mateus dedica 8 dos 28 capítulos; Marcos, 6 dos 16 capítulos; Lucas, 5½ dos 24 capítulos; e João, 9 dos 21 capítulos. Basicamente, os evangelhos dedicam entre um terço e metade de seu volume à última semana do ministério terreno de Jesus.
Essa última semana pode ser descrita, em linhas gerais, da seguinte forma:
A entrada triunfal no "Domingo de Ramos".
Ensino prolongado para as multidões e confronto com a liderança judaica, culminando com a "purificação do templo".
Jesus participa de uma refeição de Páscoa com Seus discípulos e institui a "Ceia do Senhor", seguida do lava-pés. (Judas sai durante a refeição para dizer à liderança judaica onde eles podem encontrar Jesus em um local isolado para prendê-Lo).
Jesus ora no Jardim do Getsêmani enquanto Seus discípulos dormem.
Judas lidera um grupo de guardas do templo que prendem Jesus.
Jesus passa por um "julgamento" informal perante os líderes judeus, que o condenam e o levam a Pilatos, que deve ratificar sua decisão, pois não tem autoridade para executar a pena de morte.
Pilatos tenta encontrar uma saída, então envia Jesus a Herodes, já que Jesus era galileu e a Galileia estava no território de Herodes. (Herodes estava em Jerusalém para a Páscoa).
Herodes questiona Jesus, faz com que seus soldados o atormentem e zombem dele, e o envia de volta a Pilatos.
Pilatos tenta novamente apaziguar a multidão fazendo com que Jesus seja açoitado, mas eles ainda clamam pela crucificação. Ele então oferece a eles a libertação de Jesus ou do assassino condenado Barrabás. Eles escolhem Barrabás para ser libertado, e Pilatos condena Jesus a ser crucificado.
Jesus foi crucificado na sexta-feira, de acordo com o consenso dos estudiosos, mas isso não está claramente explicitado nos evangelhos, e alguns estudiosos acham que a crucificação deve ter sido na quarta ou quinta-feira.
Segundo todos os relatos, Jesus ressuscitou dos mortos no domingo seguinte.
Jesus apareceu a vários grupos de discípulos antes de finalmente ascender ao céu (Lucas 24:50-51).
Reconstruir uma cronologia detalhada da vida de Jesus pode ser interessante e, sem dúvida, esse projeto faria com que o aluno mergulhasse na Palavra de Deus, mas também pode prejudicar as ênfases dos autores inspirados. Ler os evangelhos como eles foram escritos nos permitirá discernir melhor os temas e as ênfases inspirados. Uma cronologia exata da vida de Jesus simplesmente não era algo que os autores dos evangelhos (ou o Autor) consideravam importante comunicar.
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