Pergunta
Como os cristãos devem encarar os refugiados?
Resposta
Uma das coisas que marcaram o século XXI até agora foi a crise global de refugiados causada por guerras, genocídio e opressão em vários lugares do mundo. Algumas estimativas apontam que o número de pessoas deslocadas chega a quase 60 milhões em todo o mundo. A Síria tem enfrentado uma guerra civil desde 2011, deslocando quase 14 milhões de pessoas de suas casas; quase 5 milhões de sírios fugiram para outros países. Os Estados Unidos admitiram quase 85.000 refugiados de todo o mundo em 2016. Com os refugiados, surgem oportunidades, riscos e debates sobre qual deve ser a resposta cristã aos refugiados.
Em primeiro lugar, todos os cristãos deveriam concordar que as questões que envolvem a crise dos refugiados são mais complexas do que a retórica nas mídias sociais nos faz acreditar. Há cristãos que, em nome da compaixão, acreditam que devemos abrir todas as fronteiras e acolher todos os refugiados, não importa o que aconteça. Há outros cristãos que, nesta era de terrorismo, acreditam que devemos fechar todas as fronteiras e recusar a maioria dos refugiados. O fato de um grupo acusar o outro de "não cristão", "não amoroso" ou "racista" é errado. Insistir que sua própria visão sobre os refugiados é a única visão possível para um cristão não é útil nem realista. Não é tão simples como "amor vs. ódio" ou "compaixão vs. segurança". Há nuances a serem consideradas. Pode haver, de fato, mais de uma visão cristã sobre a questão dos refugiados.
Em segundo lugar, ainda estabelecendo as bases para a análise da crise dos refugiados, devemos reconhecer que a formação de convicções pessoais com relação aos refugiados é uma questão separada da definição de políticas governamentais. Os cristãos têm muitas prioridades em comum, mas a aplicação prática dessas prioridades pode variar de pessoa para pessoa. Um governo, mesmo quando informado por princípios cristãos, tem prioridades diferentes. Os governos devem se preocupar com a segurança nacional, mesmo que os cristãos não pensem em segurança pessoal. Um cristão individual pode estar disposto a arriscar tudo para ajudar os refugiados, mas esse mesmo cristão não pode exigir que seus vizinhos compartilhem esse risco. Precisamos encontrar um equilíbrio entre a nossa responsabilidade pessoal (dada por Deus) de demonstrar compaixão e a responsabilidade do Estado (dada por Deus) de proteger seus cidadãos.
É bom olhar para as Escrituras para ver alguns exemplos de pessoas deslocadas. Jacó e sua família poderiam ser considerados refugiados no Egito, fugindo da fome em Canaã (Gênesis 46:1-4). Quando Moabe enfrentou a destruição nas mãos dos assírios, os moabitas pediram a Israel que acolhesse seus refugiados (Isaías 16:3). Edom foi condenado, em parte, por se recusar a ajudar os refugiados judeus (Obadias 1:14). O Salmo 146:9 diz: "O Senhor cuida do estrangeiro". Rute, que era mais uma imigrante do que uma refugiada, foi bem recebida em Judá, mas observe, em suas palavras a Noemi, sua disposição de se assimilar à cultura judaica: "O seu povo será o meu povo e o seu Deus, o meu Deus" (Rute 1:16).
A Lei do Antigo Testamento continha esta instrução referente a refugiados e imigrantes em Israel: "Também não oprimirás o forasteiro; pois vós conheceis o coração do forasteiro, visto que fostes forasteiros na terra do Egito" (Êxodo 23:9). Esse princípio é reiterado em Levítico 19:33: "Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis."
O Novo Testamento não dá nenhuma ordem específica com relação à admissão de refugiados pelas nações. O Novo Testamento não foi escrito para ser um manual cívico ou uma carta legal. O que de fato encontramos no Novo Testamento são mandamentos específicos relativos ao tratamento individual dos outros. Jesus disse que o maior mandamento, logo após o mandamento de amar a Deus, é "Ame o seu próximo como a si mesmo" (Marcos 12:31). E em um dos julgamentos do fim dos tempos, Jesus elogiará aqueles que ajudaram o faminto, o sedento e o estrangeiro (Mateus 25:35). Portanto, sem dúvida, os cristãos têm a obrigação de demonstrar compaixão pelos necessitados.
A resposta cristã aos refugiados deve incluir o amor. E vale a pena ressaltar que o amor bíblico sempre inclui riscos. É impossível amar alguém da maneira como Cristo nos ama e não enfrentar um certo risco. E esse fator - o risco - é o que exige que a compaixão cristã seja temperada com cautela ao implementar uma política nacional. Qualquer nação que acolhe refugiados se abre para a possibilidade de que terroristas tenham se infiltrado nas fileiras de estrangeiros deslocados. Os ataques de Paris em novembro de 2015 e o tiroteio em San Bernardino em dezembro de 2015 são lembretes sombrios do engano empregado pelos terroristas para conseguir entrar em um país.
Portanto, um cristão que esteja formulando uma resposta bíblica à crise dos refugiados fará várias coisas:
1) Comprometer-se a administrar cuidado e compaixão aos refugiados. Os cristãos devem acolher os refugiados em suas casas e igrejas como forma de demonstrar o amor de Deus e compartilhar o evangelho. Um dia, diante do trono do Cordeiro, estarão pessoas "de todas as nações, tribos, povos e línguas" (Apocalipse 7:9).
2) Orar pelos líderes de nossa nação. As autoridades governamentais têm a responsabilidade divina de "punir o malfeitor" (Romanos 13:4) e de garantir uma "vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito" (1 Timóteo 2:2). Ore para que nossos líderes tenham a sabedoria de um Daniel ou de um José.
3) Apoiar os ministérios que ajudam os refugiados. Existem muitos ministérios cristãos que ajudam os refugiados na realocação, no treinamento para o trabalho, nas habilidades linguísticas e na adaptação cultural.
4) Promover políticas governamentais que sejam eficazes na triagem de refugiados para impedir a entrada de pessoas com más intenções. Devemos demonstrar compaixão para com os necessitados; ao mesmo tempo, devemos demonstrar compaixão para com nossos concidadãos e não colocá-los em risco indevido.
5) Orar pelos refugiados, por suas famílias e por seus países problemáticos. "Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória" (Salmo 57:5).
6) Pesquisar as melhores maneiras de ajudar os desabrigados. De "zonas seguras" no exterior a ministérios cristãos em casa, há muitas opções que merecem ser seriamente consideradas.
Jesus nos disse para irmos a todo o mundo e pregarmos o evangelho (Mateus 28:18-20). Com a onda de refugiados, o campo missionário está chegando até nós, e muitos dos que chegam são de nações fechadas às missões tradicionais. Não seria como se Deus transformasse uma situação ruim em algo bom e cheio de glória?
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