Pergunta
Quando é apropriado que os cristãos concordem em discordar?
Resposta
A Bíblia fornece orientações claras sobre quando é apropriado que os cristãos concordem em discordar e quando devem terminar a comunhão. Deus chama os crentes em Cristo para evitar desentendimentos sempre que possível na igreja, na família e nos relacionamentos cotidianos (Romanos 12:18; Hebreus 12:14).
O conceito de "concordar em discordar" envolve o entendimento de que nenhuma das partes mudará a opinião da outra, portanto, o assunto é abandonado. De acordo com o Concise Oxford English Dictionary, concordar em discordar significa "parar de discutir amigavelmente porque nunca se chegará a um acordo" (Soanes, C. e Stevenson, A., eds, Oxford University Press, 2004). Quando duas pessoas dizem: "Vamos concordar em discordar", geralmente há uma tolerância mútua implícita e um desejo de paz. As Escrituras recomendam a pacificação: "O fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz" (Tiago 3:18; veja também Mateus 5:9; Provérbios 12:20; Romanos 14:19).
Na maioria dos casos, os cristãos são instados a manter a unidade e evitar os efeitos prejudiciais da divisão. O apóstolo Paulo escreveu à igreja dividida em Corinto: "Irmãos, rogo-vos em nome de nosso Senhor Jesus Cristo que entreis em acordo quando discutirdes, e não haja divisões entre vós; pelo contrário, sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer" (1 Coríntios 1:10; veja também Filipenses 2:2-3; 4:2; 2 Timóteo 2:14; 2:23; Provérbios 17:14; 20:3; 1 Pedro 3:8). A unidade não implica uniformidade total. Não precisamos concordar em tudo, mas devemos procurar viver em harmonia e paz com outros crentes. Nossa unidade nos une como uma comunidade de fiéis, fortalecendo nossos relacionamentos uns com os outros e reforçando nossa caminhada individual de fé.
Às vezes, quando os crentes concordam em discordar, a comunhão pode continuar; outras vezes, é necessária uma separação amigável. Em Atos 15:36-40, um desentendimento entre Paulo e Barnabé causou uma separação temporária, mas depois eles reconciliaram suas diferenças (consulte 1 Coríntios 9:6; 2 Timóteo 4:11).
Por mais desagradável que seja a situação, às vezes não é possível evitar desentendimentos entre os membros da família. No entanto, devemos fazer o possível para aceitar as diferenças dos outros, parar de discutir e estender o perdão e o amor (Romanos 14:1; 15:5; 2 Coríntios 13:11; Colossenses 3:13-15).
O pecado é o principal motivo de desentendimentos na igreja (Provérbios 6:12-14; 17:19; Gálatas 5:19-20; Tiago 3:16). Nosso orgulho muitas vezes nos leva a provocar uns aos outros (Gálatas 5:26). Quando alguém discorda de nossa opinião, temos três opções: 1) podemos tentar obstinadamente forçar nossa posição, 2) podemos ouvir e considerar a posição da outra pessoa, ou 3) podemos concordar em discordar.
É aceitável, e até preferível, que os cristãos concordem em discordar e continuem em comunhão pacífica com relação a tópicos e doutrinas de importância relativamente pequena. Por exemplo, não vale a pena discutir a frequência com que devemos participar da ceia do Senhor ou nossos pontos de vista específicos sobre o cronograma do fim dos tempos. Ainda menos importantes são questões como a cor do carpete ou os lanches servidos na igreja das crianças - no entanto, mesmo essas coisas podem causar divisões se não tomarmos cuidado. Como já foi dito, "O principal é manter o principal como principal" (Covey, S., Merrill, A. R. e Merrill, R., First Things First, Simon and Schuster, 1995, p. 75). Se pudermos concordar com as "coisas principais" - as doutrinas essenciais do cristianismo - então poderemos concordar em discordar do restante.
Paulo adverte os cristãos a não se envolverem em discussões mesquinhas, especialmente sobre assuntos espirituais: "Lembra-lhes essas coisas, exortando-os diante de Deus que não discutam por causa de palavras que não têm utilidade alguma, senão a de prejudicar os ouvintes... E rejeita as questões tolas e inúteis, sabendo que geram discussões" (2 Timóteo 2:14, 23). Paulo diz ao pastor Tito que "evite questões tolas, genealogias, discórdias e debates acerca da lei; pois são coisas vazias e inúteis" (Tito 3:9). Mas há um momento em que é preciso se separar: "Depois de exortar a primeira e a segunda vez alguém que causa divisões, passa a evitá-lo. Sabes que tal indivíduo perverteu-se, vive pecando e já condenou a si mesmo" (Tito 3:10-11).
Em casos de pecado ou imoralidade direta e intencional na igreja, os crentes não são chamados a concordar em discordar. Em vez disso, para proteger o corpo de Cristo e restaurar o pecador a um relacionamento correto com Deus, as Escrituras ensinam os crentes a iniciar medidas restauradoras, conforme descrito em Mateus 18:15-20. Quando a disciplina da igreja é necessária, às vezes ela pode resultar na necessidade de encerrar a comunhão. Paulo abordou uma dessas situações em Corinto, quando um membro masculino da igreja estava vivendo em pecado com sua madrasta (veja 1 Coríntios 5:1-13). Alguns na congregação estavam, na verdade, se gabando da situação, e a complacência com o pecado estava se espalhando por toda a igreja. Paulo ordenou que os crentes se arrependessem e tomassem medidas corretivas, removendo formalmente o homem da comunhão da igreja.
A heresia na igreja é uma situação adicional em que os crentes devem romper a comunhão. Não pode haver "concordância em discordar" com hereges. Aqueles que propagam ensinamentos falsos ou que negam a fé devem ser removidos da igreja. Se isso não puder acontecer, aqueles que defendem a verdade devem sair (Romanos 16:17-18; Tito 3:10; 2 João 1:9-10).
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