Pergunta

O que significa o fato de Paulo ter se tornado servo de todos (1 Coríntios 9:19)?

Resposta
O apóstolo Paulo ansiava por ver os judeus - o seu próprio povo - salvos e no reino de Deus (Romanos 9:1-3; 10:1). Ainda maior era o seu desejo de cumprir o chamado exclusivo de Deus em sua vida para ministrar aos gentios (Efésios 3:8). Paulo desejava que Deus o usasse como um instrumento para pregar o evangelho e levar aqueles que ouvissem a mensagem à fé salvadora em Jesus Cristo. Ele escreveu: "Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais" (1 Coríntios 9:19, ACF).

Para se tornar um canal eficaz do evangelho, Paulo renunciou à sua liberdade e essencialmente se escravizou a Jesus Cristo (Romanos 1:1; 6:22; 1 Coríntios 7:22; Gálatas 1:10). Essa ideia de se tornar um servo ou escravo é conceituada pelo termo grego doulos, que se refere a uma pessoa que pertence legalmente a outra e cujo sustento e propósito são determinados por seu mestre.

Como cidadão romano livre, Paulo não pertencia a ninguém. Ele tinha amplos direitos dentro das leis de sua sociedade. Ele também tinha liberdades espirituais como cristão. Por outro lado, no antigo mundo mediterrâneo, as pessoas escravizadas não tinham quase nenhum direito ou liberdade. Um escravo tinha de obedecer às ordens de seu senhor. Paulo afirmava que era livre para fazer o que quisesse, mas, em vez disso, ele se rebaixou voluntariamente ao status de escravo de todas as pessoas. Ele se tornou voluntariamente um servo de todos para ganhar o maior número possível de convertidos.

Ao dizer: "Fiz-me servo de todos", Paulo adotou a mentalidade de Jesus Cristo, "que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:5-8). Jesus possuía a natureza de Deus, com todas as liberdades e vantagens que a natureza proporciona, mas Ele se rebaixou, fez-se servo de todos e morreu na cruz para se tornar o Salvador do mundo (1 João 4:14).

Seguindo o exemplo do Senhor, Paulo cedeu os seus direitos, privilégios, afiliações e preferências para servir aos outros e promover a causa da causa de Cristo: "Para com os judeus, fiz-me como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da Lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da Lei, embora eu não esteja debaixo da Lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, a fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, para ser também participante dele" (1 Coríntios 9:20-23).

Alguns que interpretam mal essa passagem acusam Paulo de ser um camaleão que mudava sua mensagem e seus padrões para se adequar ao seu público. Mas Paulo nunca comprometeu a verdade. Em vez disso, ele adaptou a sua abordagem para evitar ofender o seu público. Ele não ostentava sua liberdade diante dos judeus nem infligia a lei aos gentios. Seu objetivo era remover os obstáculos e as pedras de tropeço para que eles aceitassem o evangelho (veja 1 Coríntios 1:23; 2 Coríntios 6:3; Romanos 14:20). Warren Wiersbe escreve: "Uma boa testemunha tenta construir pontes, não muros" (Comentário Expositivo da Bíblia, vol. 1, Victor Books, 1996, p. 601).

Em Atos 16:1-5, Paulo queria que Timóteo o acompanhasse em uma de suas viagens missionárias. Em deferência aos judeus a quem eles ministrariam, Paulo providenciou que Timóteo (cujo pai era grego) fosse circuncidado. Os missionários não queriam que nada impedisse que as Boas Novas se espalhassem e fossem recebidas em toda a região. Para atingir esse objetivo, Paulo e Timóteo se tornaram servos de todos.

A motivação de Paulo para pregar não era uma ambição egoísta: "Porque não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo como Senhor e a nós mesmos como servos de vocês, por causa de Jesus" (2 Coríntios 4:5). Um bom servo de Jesus segue o modelo de seu Mestre, que se fez servo de todos.