Pergunta

Por que, quando e por quanto tempo o apóstolo Paulo esteve na Arábia?

Resposta
Em qualquer biografia, o autor, por necessidade, deixa de fora muitos eventos. Mesmo uma obra extensa como a biografia de Winston Churchill, em 16 volumes e 10 milhões de palavras, de Randolph Churchill e Martin Gilbert, que se diz ser a mais longa biografia dos tempos modernos, ainda assim deixará de fora muito mais do que registra. Portanto, quando lemos o Novo Testamento, que é relativamente curto, é bom lembrar que os autores humanos foram altamente seletivos, mencionando apenas alguns poucos eventos na vida dos personagens. O período de Paulo na Arábia é um desses eventos que recebe apenas algumas breves menções, sem as quais não saberíamos nada sobre ele. Com base nos dados que temos, só podemos especular sobre "por que", "quando" e "quanto tempo" Paulo passou na Arábia.

É importante determinar o que significa o termo Arábia. No português moderno, Arábia se refere à Península Arábica, onde está localizada a Arábia Saudita. Entretanto, no primeiro século, a designação também poderia se referir ao deserto sírio-arábico, mais ao norte, que inclui partes da atual Síria e Jordânia (Projeto de Línguas e Culturas da Arábia Antiga na Universidade de Oxford).

No livro de Gálatas, Paulo enfatiza que recebeu o evangelho diretamente de Jesus e não dos outros apóstolos. Como evidência, ele oferece a seguinte informação em Gálatas 1:11-20: "Mas informo a vocês, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é mensagem humana, porque eu não o recebi de ser humano algum, nem me foi ensinado, mas eu o recebi mediante revelação de Jesus Cristo. Porque vocês ouviram qual foi, no passado, o meu modo de agir no judaísmo, como, de forma violenta, eu perseguia a igreja de Deus e procurava destruí-la. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, levava vantagem sobre muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições dos meus pais. Mas, quando Deus, que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, achou por bem revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não fui imediatamente consultar outras pessoas, nem fui a Jerusalém para me encontrar com os que já eram apóstolos antes de mim, mas fui para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco. Passados três anos, fui a Jerusalém para me encontrar com Cefas e fiquei quinze dias com ele. E não vi outro dos apóstolos, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. Ora, a respeito do que estou escrevendo a vocês, afirmo diante de Deus que não estou mentindo."

Paulo se converteu na estrada para Damasco, que fica na Síria (Atos 9). Depois de ver o Senhor, ele continuou em Damasco. Atos 9 continua mencionando o ministério de Paulo em Damasco, como ele pregava Cristo e como os judeus planejavam matá-lo. Como seus inimigos estavam vigiando os portões da cidade para impedir sua fuga, Paulo foi baixado em uma cesta do muro da cidade e depois viajou para Jerusalém. Embora Lucas, o autor de Atos, não mencione o termo Arábia ou um período de três anos, tudo o que ele escreve em Atos 9 é consistente com o que Paulo diz em Gálatas 1. Após a sua conversão, Paulo passou um tempo em Damasco e depois foi para Jerusalém. Em 2 Coríntios 11:32-33, Paulo também menciona esse detalhe: "Em Damasco, o governador nomeado pelo rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender, mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha, e assim me livrei das mãos dele." Essa última informação indica que a liderança judaica local havia persuadido os oficiais de Damasco a ajudá-los a capturar Paulo.

Juntando todos os relatos, Paulo passou "vários dias" em Damasco (Atos 9:20-22). De lá, de acordo com Gálatas 1:17, ele deixou Damasco e foi para a Arábia, o que pode significar a região desértica ao redor. Não temos ideia de até onde Paulo pode ter ido para o sul da Península Arábica, mas sabemos que mais tarde ele retornou a Damasco. Gálatas 1:18 diz que "depois de três anos" ele foi para Jerusalém. Como a sua conversão é o foco em Gálatas 1, é mais razoável presumir que ele foi para Jerusalém três anos após a sua conversão, e não três anos após retornar a Damasco - mas, de qualquer forma, foram pelo menos três anos antes de ele consultar os apóstolos em Jerusalém.

Paulo esteve na Arábia (incluindo Damasco e o deserto ao redor) por pelo menos três anos imediatamente após a sua conversão. Alguns especulam que Paulo passou esse tempo em relativa reclusão, talvez vivendo como um eremita do deserto e resolvendo as implicações de sua nova fé. No entanto, o registro bíblico enfatiza que ele começou imediatamente a pregar nas sinagogas. Atos 9:22 não apresenta a imagem de um homem que está apenas "descobrindo": "Saulo, porém, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo." Quando ele saiu de Damasco, com sua significativa população judaica, é razoável supor que ele fez exatamente o que Jesus o havia chamado para fazer: pregar o evangelho aos gentios. Isso não elimina a possibilidade de que ele tenha passado um tempo solitário estudando as Escrituras, orando e contemplando, como provavelmente fez durante toda a sua vida. Mesmo na prisão, perto do fim de sua morte, ele pede a Timóteo que traga "os livros, especialmente os pergaminhos" (2 Timóteo 4:13). Entretanto, o ponto em Gálatas 1 é que Paulo já tinha um vigoroso ministério apostólico antes de se reunir com os apóstolos em Jerusalém e, a partir de Atos 9, esse ministério começou imediatamente. Durante três anos, ele espalhou o evangelho em Damasco e nos arredores (veja a discussão útil em A Epístola aos Gálatas: O Novo Comentário Internacional do Texto Grego, de F. F. Bruce, Eerdmans, 1982, p. 97 em inglês).