Pergunta

O que significa o fato de que Deus não pode negar a si mesmo (2 Timóteo 2:13)?

Resposta
Várias vezes em suas instruções a Timóteo, Paulo apresenta o conteúdo como "uma declaração confiável" (1 Timóteo 1:15; 3:1; 4:9; 2 Timóteo 2:11). A designação "digna de confiança" destaca o que vem a seguir como um princípio importante e confiável. Logo após essa introdução, Paulo comenta que Deus não pode negar a si mesmo (2 Timóteo 2:13).

Em 2 Timóteo 2:11, Paulo apresenta o que parece ser um verso poético de um hino que inclui quatro dísticos. As palavras podem já ser familiares a Timóteo, ou Paulo pode estar simplesmente fornecendo um novo conteúdo. Na tradução literal, a passagem é a seguinte: "Fiel é esta palavra: 'Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar a si mesmo'" (2 Timóteo 2:11-13).

No primeiro dístico (2 Timóteo 2:11), Paulo reconhece que, por termos morrido junto com Cristo (como em Colossenses 2:20 e 3:3), viveremos junto com Ele. Desfrutaremos da vida eterna com Cristo. Paulo afirma isso como um fato (usando a condição de primeira classe no grego) - isso não é meramente um "se", mas um "desde". É um fato que morremos juntos (Paulo usa o tempo aoristo, denotando que a ação está completa), e é uma certeza que no futuro viveremos juntos com Cristo.

Em seguida, Paulo incentiva os crentes que, uma vez que estamos perseverando (também assumido como fato, usando o condicional de primeira classe), então reinaremos junto com Ele e uns com os outros (2 Timóteo 2:12a). Como João explicou em Apocalipse, os crentes vencem por meio de Cristo, que venceu (compare Apocalipse 2:7, 11; 3:5; 21:7, etc., com Apocalipse 5:5). Esse é um incentivo para que os crentes perseverem - e, pressupondo a sua perseverança, lembrando que há um futuro de recompensas e atividades significativas reservadas.

O terceiro dístico (2 Timóteo 2:12b) muda o tempo verbal da ação (protasis) do presente (como foi usado nos dois primeiros dísticos) para o futuro, traduzindo a primeira parte do dístico: "se negarmos no futuro". Se houver tal negação, então Ele também nos negará. Jesus usou terminologia semelhante quando explicou que, se as pessoas O negassem diante dos homens, Ele as negaria diante do Pai (Mateus 10:33). É importante observar que Jesus estava falando com os Seus doze discípulos (Mateus 10:5; 11:1). Ele explica que o Espírito falaria por meio deles (Mateus 10:20) e os adverte sobre a necessidade de serem fiéis em confessá-Lo diante dos homens e não negá-Lo - Ele os está desafiando a serem mensageiros fiéis para Ele. Havia recompensa por confessá-lo diante dos homens (Mateus 10:32) e consequências por negá-lo diante dos homens (Mateus 10:33).

Em 2 Timóteo 2, Paulo está desafiando Timóteo a perseverar e cumprir o seu ministério, que incluía fazer o trabalho de um proclamador de boas novas, ou evangelista (2 Timóteo 4:5). Paulo desafia Timóteo com a importância de confessar e não negar Jesus.

Quando Paulo diz que Jesus nos negará, ele não está se referindo à perda da salvação ou à mudança de posição diante de Deus. Assim como Jesus advertiu os Seus doze discípulos, Paulo lembra Timóteo de que há consequências para a infidelidade no ministério. Paulo havia explicado anteriormente, nesse contexto, a importância de se engajar como um bom soldado, um atleta que compete de acordo com as regras e um fazendeiro que trabalha duro (2 Timóteo 2:3-6).

Paulo havia explicado em outro lugar que estava se esforçando para ser fiel, para não ser desqualificado para o ministério (1 Coríntios 9:23-27). Ele se refere à fidelidade na prática, não à perda da salvação - como ele explica após o quarto dístico em 2 Timóteo 2:13: Deus "não pode negar-se a si mesmo". Para garantir que as pessoas entendessem corretamente as recompensas e as consequências da fidelidade na vida cristã, Paulo disse aos coríntios que as obras de todos os crentes um dia seriam avaliadas no tribunal de Cristo. Se essas obras passarem no teste, o crente será recompensado (1 Coríntios 3:14). Se as obras forem queimadas, o crente perderá a recompensa, mas não perderá a salvação (1 Coríntios 3:15). A advertência de Paulo a Timóteo de que Jesus negaria aqueles que O negassem não tem nada a ver com a posição deles em Cristo, como vemos no quarto dístico: "se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar a si mesmo" (2 Timóteo 2:13).

Mesmo se formos infiéis ou não tivermos fé, Ele permanece fiel, pois Deus não pode negar a Si mesmo. Uma vez que uma pessoa está em Cristo (por acreditar nEle), Deus permanece fiel a essa pessoa - Ele mantém a Sua palavra. Aquele que crê tem a vida eterna desde o momento da fé (por exemplo, João 6:47; Romanos 8:29-31). Nada pode separar um filho de Deus do amor de Deus (Romanos 8:38-39), porque Ele é fiel em cumprir a Sua promessa.

Deus não pode negar a Si mesmo. Se Ele quebrasse a Sua promessa àqueles que creram nEle, isso seria uma negação de Si mesmo e de Seu caráter justo. Para aqueles que temem que Deus esteja sobre eles esperando para expulsá-los se O negarem ou se não tiverem crença suficiente ou se forem infiéis em seus ministérios, Paulo diz que Deus sempre permanece fiel. A Sua fidelidade é uma questão do Seu próprio caráter - Deus não pode negar a Si mesmo (2 Timóteo 2:13).

As Escrituras nunca nos manipulam a agir com base na possível perda de nossa posição em Cristo. Em vez disso, somos exortados a agir porque Deus é fiel e as promessas que Ele faz são certas.